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Os Franceses no Brasil: Saint-Alexis, Rio de Janeiro, Ibiapaba e São Luís do Maranhão

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Escrito por Marco Ramerini. Tradução feita por Márcia Siqueira de Carvalho

Os portos franceses na Normandia, especialmente o de Rouen e Dieppe, onde no século XVI estava estabelecida uma indústria têxtil florescente que se tornava a principal atividade econômica que competia com Portugal pelo mercado brasileiro. Atentos à presença de vastas florestas com “Pau Brasil” (usado no tingimento de tecidos) no litoral brasileiro, os franceses logo estabeleceram relações comerciais com os indígenas. A primeira viagem data de 1503-1504, quando a embarcação “Espoir” chegou às costas brasileiras. Após este primeiro contato, multiplicaram-se as expedições.

Em 1531, dois navios franceses e 120 homens sob o comando de Jean Dupéret, aportaram nas costas brasileiras. Na ilha de Santo Aleixo (próximo de Recife), chamada pelos franceses de “Ile Saint-Alexis”, eles construíram um forte e uma feitoria comercial. Esta feitoria francesa teve vida breve. Os portugueses capturaram os navios franceses na sua viagem de volta à Europa e em dezembro de 1531 sitiaram o forte francês até a rendição.

Os franceses fizeram três outras tentativas para se estabelecerem no Brasil. A primeira delas foi no Rio de Janeiro (1555-1560), a segunda em Ibiapaba-Ceará (1590-1604), e a terceira em São Luís do Maranhão (1612-1615).

A FRANÇA ANTÁRTICA 1555-1560

Na década de 1550, a região de Cabo Frio até o Rio de Janeiro estava mais sob o controle dos franceses do que sob o domínio dos portugueses. Por quase cinco anos, entre 1555 e 1560, os franceses mantiveram um forte numa pequena ilha na Baía de Guanabara (Rio de Janeiro): o Forte Coligny.

O calvinista Nicolas Durand de Villegagnon foi enviado ao Brasil em 1555 para marcar a presença francesa naquele lugar. Em 14 de agosto de 1555, com três navios, 600 marinheiros e colonos, ele partiu em direção ao Brasil.

A Ilha de Villegaignon sob ataque Português (1560)
A Ilha de Villegaignon sob ataque Português (1560)

A expedição francesa chegou entre 10-15 de novembro de 1555, na Baía de Guanabara e desembarcaram numa ilha deserta, a atual ilha de Villegagnon. Nela foi construído o Forte Coligny e logo estabeleceram boas relações com os indígenas que lá habitavam. Os membros desta primeira expedição eram quase todos da Bretanha e da Normandia e subdividiam-se entre Católicos e Protestantes.

Pouco tempo depois, em março de 1556, chegou uma segunda expedição composta de três navios e 190 homens. A colônia teve um bom desenvolvimento, mas as normas intolerantes e rigorosas de Villegagnon paralisaram o crescimento do promissor núcleo francês. As regras opressoras de Villegagnon obrigaram uma boa parte dos colonos a abandonarem o local. Entre eles, alguns huguenotes que voltaram para a França, onde suas denúncias levaram à desistência de uma expedição de 700 a 800 colonos que estava sendo organizada.

Em 1559, Villegagnon também voltou à França, deixando o comendo da colônia para seu sobrinho Bois-le-Comte. Portugal que não estava disposto a tolerar a presença francesa em suas terras, enviou uma expedição de 120 portugueses e 1.000 índios, sob as ordens de Mem de Sá, Governador Geral do Brasil (1558-1570), que em 16 de março de 1560, após dois dias e duas noites de um enfrentamento encarniçado, destruiu a colônia francesa. Os 70 sobreviventes franceses e seus 800 índios aliados, desmoralizados, abandonaram o forte e se refugiaram entre outros indígenas.

Como W.J. Eccles escreveu em seu livro “France in America”: “For a century, French traders had challenged the Portuguese hold on this vast region, with little or no aid from the Crown. But for religious dissension at Rio de Janeiro, and the unfortunate character of Villegagnon, France rather than Portugal might well have established a vast empire in South America.” Traduzindo, “Durante um século, os comerciantes franceses desafiaram os portugueses nesta vasta região, com pequena ou nenhuma ajuda da Coroa. Mas por causa da dissenção religiosa no Rio de Janeiro, e do péssimo caráter de Villegagnon, a França, mais do que Portugal, poderia ter fincado bases de um grande império na América do Sul.

IBIAPABA 1590-1604

Em 1590, sob o comando de Adolf Montbille, uma expedição francesa se estabeleceu em Ibiapaba (Viçosa-Ceará), onde os franceses fundaram uma feitoria e um forte, e comercializavam “pau brasil” com os índios que habitavam o núcleo comercial francês.

Os franceses viveram em paz com os indígenas por 14 anos, mas em 1604 uma expedição portuguesa chefiada por Pero Coelho atacou a colônia e após uma batalha violenta, foçaram os franceses a se renderem.

SÃO LUÍS DO MARANHÃO 1612-1615

Em 19 de março de 1612, três navios franceses partiram do porto francês de Canacale em direção ao Maranhão. Esses navios eram: “Regent” sob o comendo de Rasilly e La Ravardière, “Charlotte” comandado pelo Barão de Sancy e o “Sainte-Anne”.

Em 24 de junho os navios chegaram à Ilha de Fernando de Noronha onde permaneceram até 8 de julho. Lá eles encontraram um português e 17 ou 18 escravos indígenas. Todos eles foram levados para o Maranhão. Em 29 de julho, os franceses alcançaram a ilha “Pequena do Maranhão”, que se encontrava deserta. Esta ilha foi batizada pelos franceses como Ilha de Santana (Sainte-Anne). De lá os franceses se deslocaram para a ilha “Grande do Maranhão” onde eles encontraram alguns navios de Dieppe e de Le Havre com 400 franceses que comerciavam com os indígenas. Nesta ilha os capuchinhos construíram o convento de São Francisco (Sainte Françoise) e perto dele, um forte chamado Forte São Luís (Saint-Louis). Em 20 de dezembro de 1612, uma capela religiosa foi inaugurada.

São Luis do Maranhão (1629) por Albernaz
São Luis do Maranhão (1629) por Albernaz

Ali os franceses viveram em paz por quase dois anos. Em 1613, os líderes do assentamento resolveram retornar à França em busca de reforços. Após algumas tentativas junto à Corte, eles começaram a preparar uma expedição mais próspera. Na Páscoa de 1614, o navio “Regent” com 300 franceses partiram na direção do Maranhão. Em 14 de junho, o navio passou em frente do forte português do Ceará, and em 18 de junho a expedição chegava ao “Buraco das Tartarugas” ou Jaracoará onde havia outro forte português. Apesar dos obstáculos, os reforços franceses chegaram a salvo no Maranhão.

Reconhecendo a presença contínua dos navios na região, os portugueses construíram vários fortes para controlar a costa com o intuito de acabar com o comércio francês. Em 1611 ou 1612, os portugueses haviam fundado o forte do Ceará, chamado Nossa Senhora do Amparo; em agosto de 1613, eles haviam fundado também o forte de Jaracoará, chamado Nossa Senhora do Rosário.

Em 26 de outubro de 1614, uma tropa portuguesa de 500 homens (portugueses e índios), chegou à terra-firme, perto dos assentamento franceses, com o objetivo de os expulsar. Os portugueses acamparam em Guaxenduba onde construíram um acampamento fortificado, chamado Forte de Santa Maria. Os franceses do Maranhão, sendo superiores em número, decidiram tomar a iniciativa e em 19 de novembro de 1614, com 7 navios, 50 canhões e o reforço de 200 franceses e 1.500 índios atacaram o forte português. O ataque se transformou, porém, numa derrota esmagadora para os franceses.

Em 27 de novembro de 1614, foi assinado um armistício de duração de um ano, com o objetivo de permitir ao rei da França e da Espanha estabelecer uma saída diplomática. Também decidiu-se enviar emissários franceses e portugueses à Europa para explicar a questão. Então, em 16 de dezembro de 1614, o navio “Regent”, partiu para a Europa tendo a bordo emissários portugueses e franceses. Os resultados desta missão não são bem conhecidos.

Porém os reforços franceses para o Maranhão nunca chegaram. Entretanto, em 1º de novembro de 1615, uma frota portuguesa de 9 navios e de várias centenas de homens, sob o comando de Alexandre de Moura, chegou aos assentamentos franceses. Os portugueses aportaram na ilha “Grande do Maranhão” e entrincheiraram-se na altura de São Francisco. O forte foi chamado de “Quartel de São Francisco”. Em 3 de novembro de 1615, os franceses já desmoralizados, se renderam sem lutas.

BIBLIOGRAFIA:

– Parkman, Francis “Pioneers of France in the New World” University of Nebraska Press, 1996

– Daher, Andréa “Les Singularités de la France Équinoxiale : Histoire de la mission des pères capucins au Brésil (1612-1615)” Préface de Roger Chartier., Paris, Champion, coll. « Les Géographies du Monde »,‎ 2002, 346 p.

– Thevet, André “Les singularités de la France antartique” 1558, new ed. (Paul Gaffarel, ed.) 1878

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